Prêmio Nobel de Literatura 2015

A escritora e jornalista bielorrussa Svetlana Alexievich foi agraciada pela Real Academia Sueca de Ciências, em Estocolmo, com um dos mais prestigiados prêmios literários do mundo, o Prêmio Nobel de Literatura.


O prêmio, que existe desde 1901, é entregue a um escritor (a) de qualquer nacionalidade que, de acordo com Alfred Nobel, tenha “produzido, no campo literário, o mais magnífico trabalho em uma direção ideal”. Premiando os vencedores com a quantia de 8 milhões de coroas suecas (cerca de 3,75 milhões de reais).

A vencedora

Svetlana Alexievich é conhecida por seus insights únicos, e muitas vezes angustiantes de narrativas baseadas em depoimentos sobre grandes fatos históricos envolvendo seu país, como a Segunda Guerra Mundial (1940-1944), a queda do Império Socialista, a Guerra do Afeganistão (1979 -1989) e o desastre nuclear de Chernobyl (1986), na Ucrânia.

Segundo a Academia Sueca, as obras da autora são marcadas “por seus escritos polifônicos, um monumento ao sofrimento e a coragem em nosso tempo”. Sendo que, “por meio de seu método extraordinário - uma colagem cuidadosamente composta de vozes humanas - Alexievich aprofunda nossa compreensão de toda uma época”, completou a Academia, em nota.

 “Ela inventou um novo gênero literário. Ela transcendeu os formatos jornalísticos e pressionou em frente com um gênero que outros têm ajudado a criar”, destacou a secretária permanente da Academia Sueca, Sara Danius, em entrevista após o anúncio do prêmio.

Sua obra

Já em seus dias de estudante, Svetlana Alexievich escrevia poesias e artigos para o jornal da escola. Ao longo dos anos, ela chegou a experimentar vários gêneros literários, como o conto, o ensaio e a reportagem. Mas foi o renomado escritor bielorrusso Ales Adamovich, em especial seus livros “I'm from the Fiery Village” e “The Book of the Siege”, que teve uma influência decisiva na escolha da autora. Embora ainda hoje ela continue a desenvolver seu gênero original, empregando em cada livro uma nova forma de escrita.

“Tenho procurado um estilo que seja adequado à minha visão do mundo para transmitir aquilo que ouço e vejo como sendo a vida. Tentei isto e aquilo e, finalmente, escolhi o gênero das vozes humanas reais e confissões.”, explica a autora em seu site oficial.

Assim, depois de anos reunindo material e conduzindo milhares de entrevistas, Alexievich iniciou o ciclo “Voices of Utopia”, um série de cinco livros-reportagem onde a vida na União Soviética é retratada a partir da perspectiva do indivíduo. Sendo que, em seu primeiro livro “War's Unwomanly Face” (1985), a autora apresenta a Segunda Guerra Mundial sob a perspectiva de mulheres que atuaram como soldados, atiradoras de elite, médicas e enfermeiras.

Aclamado pela crítica, o segundo livro da autora “The Last Witnesses: 100 Unchildlike Stories”, também publicado em 1985, mostra a guerra de forma inédita, através dos olhos de mulheres e crianças. Quatro anos depois, viajando pelo país, entrevistando mães de vítimas e veterano de guerra, a autora publicou seu terceiro livro “The Boys in Zinc” (1989), uma obra polêmica sobre a guerra soviético-afegã, que chegou a render a autora um processo judicial, mas o caso foi encerrado.

E, em 1993, Svetlana publicou “Enchanted with Death”, um livro sobre tentativas de suicídio como resultado da queda do continente socialista. Já, em 1997, a autora publicou seu mais famoso livro, “The Chernobyl Prayer: the Chronicles of the Future”, que tem como tema as consequências da catástrofe nuclear de Chernobil em 1986. Sendo que, atualmente, a escritora decidiu mudar um pouco de tema e está escrevendo a sua mais nova obra “The Wonderful Deer of the Eternal Hunt”, composta de histórias de amor, na qual homens e mulheres de diferentes gerações contam suas histórias.

 “Ocorreu-me que estou escrevendo livros sobre como as pessoas matam uns aos outros, e como eles morreram. Mas esta não é toda a vida humana. Agora estou escrevendo sobre como as pessoas se amam. E novamente me faço a mesma pergunta, desta vez através do prisma do amor: quem somos e em que país estamos vivendo. O amor é o que nos traz a este mundo. Eu quero amar as pessoas. Embora seja cada vez mais difícil amá-las.”, diz Alexievich em seu site oficial.

Com seus livros traduzidos para mais de 19 idiomas e adaptados para peças de teatro, documentários e filmes, Alexievich foi agraciada com inúmeros prêmios internacionais, como o polonês “Ryszard Kapuściński” de Reportagem Literária (2011, 2015), o europeu “Herder Prize” (1999), o americano “National Book Critics Circle Award” (2005), o francês “Prix Médicis Essai” (2013) e o sueco “Tucholsky-Preis” (1996), entre muitos outros.

No Brasil, a autora terá quatro de suas obras publicadas pela editora Companhia das Letras, entre elas “Voices From Chernobyl”, “Time Second Hand”, “War’s Unwomanly Face” e “Last Witnesses”. As publicações ainda não têm data de lançamento.

Sobre a autora

foto: divulgação
Svetlana Alexandrovna Alexievich nasceu em 31 de maio de 1948, na cidade ucraniana de Ivano-Frankivsk, no entanto, quando o pai completou o serviço militar, a família mudou-se para Bielorrússia (Belarus), onde ambos os pais passaram a trabalhar como professores.

A autora formou-se em Jornalismo na Universidade de Minsk em 1972, e assim que concluiu os estudos, passou a trabalhar como professora e jornalista, exercendo a última profissão nos principais jornais do país.

Mas antes de se firmar na carreira de jornalista, logo após se formar, Svetlana se encontrava dividida entre várias opções de carreira, como seguir a tradição familiar como professora, ou se dedicar aos trabalhos acadêmicos ou ainda exercer o jornalismo. Sendo que, naquela época, ela foi enviada para a cidade de Burayşah, em Brest, perto da fronteira com a Polônia, onde passou a trabalhar no jornal e na escola local.

Mais tarde, a jornalista voltou a Minsk, conseguindo um emprego no jornal Gazeta Sel'skaja, e alguns anos depois, ela aceitou o trabalho como correspondente para a revista literária Neman, e logo foi promovida para chefe da seção de não-ficção. Sendo que, ao longo dos anos, a autora passou a recolher material para seu primeiro livro “War's Unwomanly Faces” (1985), baseado em centenas de entrevistas com mulheres que participaram da Segunda Guerra Mundial.

Em 1983, o livro estava pronto, mas não foi publicado, rendendo a Alexievich as acusações de pacifismo, naturalismo e glorificação da mulher soviética. Sendo que, naquela época tais acusações podiam ter sérias consequências, como ter seu livro destruído, ser ameaçada de perder o emprego, e ter uma reputação de jornalista dissidente com ponto de vista anti-comunista e contra o governo.

Mas em 1985, com a mudança de poder no país, “War's Unwomanly Faces” foi finalmente publicado em Minsk e Moscou, vendendo mais de 2 milhões de cópias, e sendo reimpresso inúmeras vezes. Além de ser saudado por escritores de guerra e pelo público. No entanto, em 2000, por causa de sua crítica ao regime, Alexievich foi obrigada a deixar a Bielorrússia, vivendo por um bom tempo no exterior, em países como a Itália, a França, a Alemanha e a Suécia, entre outros lugares. Apenas podendo retornar ao seu país de origem em 2011.

Atualmente, aos 67 anos, vivendo em Minsk, a autora confessou sua surpresa ao receber o anúncio da Real Academia Sueca. “Ganhar esse prêmio é algo grandioso, totalmente inesperado, quase uma sensação inquietante. Penso nos grandes autores russos como Boris Pasternak.”, disse Svetlana, por telefone, à televisão pública sueca SVT.

A cerimônia de entrega do Prêmio Nobel aconteceu em Estocolmo no dia 10 de dezembro, aniversário da morte do fundador do prêmio, Alfred Nobel, no qual Alexievich realizou um comovente discurso sobre a história, as perdas e conquistas de seu país.

 “Eu fui chamada uma escritora de catástrofes, mas isso não é verdade. Estou sempre à procura de palavras de amor. O ódio não nos salvará. Apenas o amor. E eu tenho esperança ... Ao me despedir de vocês, eu gostaria que a língua bielorrussa fosse ouvida neste magnífico salão; é a língua do meu povo. [...] Eu quero agradecer a todos vocês por seu coração, obrigado por ouvir a nossa dor.”, diz a autora em seu discurso durante a cerimônia de premiação.

Confira os demais vencedores do Nobel no site oficial do prêmio (em inglês).

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